O prazer mora ao lado


Eu sempre quis alguém que entendesse as minhas manias, os meus medos; que sobrevivesse ao meu caos. Alguém que estivesse ao meu lado quando algo de bom acontecesse e naqueles momentos em que a única coisa que nos agrada é a presença da paz – mas eu não imaginava que esses momentos poderiam se tornar tão comuns. Eu não tinha noção que essa vontade poderia transbordar pelo meu rosto, numa expressão de desespero e gentileza, que ela poderia se espalhar pelo meu corpo – bem como eu me esparramo pelo seu. Depois de inúmeros começos e fins, o nosso é o mais avassalador. Porque eu sempre quero mais, e mesmo que você me torture devagar com a sua presença – me fazendo vítima e culpada do nosso caso –, eu me rendo – como se eu não pertencesse a nenhum outro alguém além daquele que me faz inteira.


Todos os dias eu me sinto estática num sentimento de prazer e libertinagem. São apenas momentos, mas valem cada órgão do meu corpo. Aliás, de todos os corpos. Todos os dias eu arranco do meu peito um órgão, uma veia entupida – que esguicha amor em líquido vermelho para todo lado, inclusive para o seu.
Depois do expediente eu me despeço do mundo, a partir desse momento eu somente sou visível aos seus olhos, aos olhos de quem me deseja; eu sou um ser exorável. Você, completamente irredutível. Entre entranhas e cansaço eu me desfaço do que me esconde e a sua mão contorna cada curva do meu corpo – um misto de complacência e resistência. Eu tento ser um pouco menos exata, mas você sempre acerta. O clima lá fora me estimula e você me convence a ficar – eu ficaria se você não fosse tão perfeita e completamente meu. Eu não fico porque a gente é muito melhor longe. Quando eu volto é sempre novidade, eu digo que estava com saudades e o que era sonho me alimenta.


Mas hoje você não é tão meu quanto antes, então eu me obrigo a ficar. Ficar e te olhar, ficar e te sentir, ficar e ser tudo aquilo que eu sonhei,  sonhar e te amar; acordar e perceber que é realidade o que eu imaginava quando estava próxima de você; te amar e  me entregar ao que sempre me acolheu – aos seus braços –, te amar e me pintar sua – até o cansaço me vencer. Eu cesso e agora a despedida é sua. Espere-me ao lado que agora a vida reinicia e uma nova chance é sempre bem vinda. A última vez foi loucura a sua ida, agora, eu te espero todos os dias com cara de quem não se aguentou e logo – eu te amo meu amor –, se matou. Daqui eu te vejo. Daqui do lado – ou melhor, do outro lado. Adeus.


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