Momentos do eu
Talvez um dia eu me
perdoe por ser tão mácula. Enquanto isso não acontece eu amarro os meus cabelos
desbotados e procuro a felicidade. Eu vivo uma saudade em cima da outra. Uma
nudez de sentimentos sem segredos, que gritam apuros. Eu tenho um universo
dentro de mim. Nele são notáveis a intensidade e o impulso. O caminho
percorrido até ele é árduo; absurdo.
Quero intimidade
suficiente para que eu me mostre. Para que eu rasgue esse revestimento que
compõe todo o meu corpo e te permita conhecer-me mais de perto. A cor do céu é
da cor da minha esperança, o que me assusta é o mesmo que me acalma, o que eu
odeio é parecido com aquilo que amo, e todas as coisas me confundem até o
último dano. Aquele que faz-me dormir. Congelo e logo penso como seria se desse
certo. Sempre acontece. Porque nunca dá.
Não me contrariaria se a presença física, de fato, me
conformasse. Mas não me convence a ideia de preenchimento sentimental. É como
chuva de verão - impressiona -, mas nunca satisfaz. Eu só soube disso quando
comecei a me sentir. Não o que outrem fez. Sim, o que eu fiz. Olhar para si
mesmo é tão repugnante quanto apontar o dedo. Tanto amargo quanto rancoroso. É
difícil se culpar quando a culpa é sua, simultaneamente, tão mais fácil
culpabilizar-se quando fora totalmente ingênuo.
Estava no meio da mata e ao mesmo tempo no asfalto da Lapa. Senti-me
dividida - não pela localidade em si. Os sentimentos trazidos, tão distintos. A
melodia dos pássaros, o som da minha espécie. Senti o calor do asfalto bem como
nascer os espinhos. Mas meu preto desbotado brilhava no reflexo do mesmo sol.
Do mesmo eu. É facilmente percebido depois de acontecido, eu estava
inteira.
Inteira fui quando acreditei em verdades. Essas verdades foram tão, tão,
tão bem inventadas, que se tornaram verdades. Dentro de mim. Elas destroem
qualquer situação. Porém, comigo fora diferente. Elas destruíram o eu. O mais
importante de todos existentes. Fiquei imersa em um lugar antes desconhecido.
Totalmente inerte. Quando me dei conta que o tempo não era como a minha vida,
pude reconhecer que estava beirando a solidão.
Hoje acordei com tanta preguiça, estranho para uma pessoa que faz muito.
Não coloquei lençol na cama e não penteei o meu cabelo. Deixei que o mundo
gritasse lá fora. Preferi ouvir o barulho do teclado, do meu coração, a
qualquer outro som. Uma sensação de prazer me consumiu tão fácil e
vagarosamente. Momentos como esse me descobrem.
Olho e logo sorrio. Penso, como é lindo! Como pode?
Como posso passar despercebida pela felicidade?
Não! Você não passa. Você entra. Você se entrega. Você se doa. Doa tudo.
Mas doa com vontade. Arranca essa máscara congelada e se derrete. Não importa
diante do que - desde que queira. Se é do espelho, ou do cara do carro vermelho,
disse a solidão.
Eu estou em choque. Não consigo acreditar como consegue mexer tanto comigo. Fico sem palavras, perdão !!!
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