Sobre o que a vida deixou de você em mim



Quando me disseram que algumas pessoas me decepcionariam e eu, de alguma forma, viveria sem elas (ou melhor, aprenderia), não acreditei. Simplesmente sorria como quem diz "mas que bobagem". Um dia as coisas serão diferentes. Se antes você andava perfeitamente, hoje pode perder os seus movimentos. Não digo: "não andar tão bem", diria "não andar". A vida tem dessas.
Isso me levou a um lugar distante de tudo. Vivi o que me faz feliz e não me lembrava, até então, de como era me sentir liberta. Aqueles relances mais pareciam sonhos, dei uma mão para mim e rodei... mergulhei naquilo que chamam de "ficção" de tão bom que era. Quando acordei e percebi o quão pequena me tornei, do incômodo do silêncio lá fora e o barulho quase que insuportável em minha mente, descobri que a beleza não morava no tangível. Quem escolhia o que seria belo ou não, eram os meus sentidos (ou melhor, aquilo que eu conheço tão pouco, o que vive dentro de mim). Eu não preciso estar caminhando lado a lado, eu sou tão minha que o melhor lado, é o meu esquerdo. 
Aos poucos pude perceber que é a minha mente gritante que me mantém (talvez lá fora as coisas estejam intrínsecas demais, talvez não sejam nada).
Bem como as pessoas que me deixaram hoje me faço de passagem. Mudo constantemente. 
E foi assim que você me colocou num canto da sua vida, me encaixou em qualquer lugar (onde mal cabia o meu coração) e ali fiquei (por isso me sentia minúscula toda vez que se aproximava). Sempre que você saia aquele grão crescia, então você foi se distanciando. Um tempo depois você desapareceu e eu evoluí, onde não tinha espaço deixou de ser o meu "lar", comecei a preferir não ter um. Odiei o fato de ter que pertencer a algum lugar, eu queria simplesmente estar. Sem precisar provar que estava ali, de corpo, mente e alma (porque eu não seria, nunca mais, tão presente).
Assim como as estações a minha vida estava caminhando de forma que surpreendia alguns e deixava outros decepcionados. Eu não entendia. Como devo me comportar?
Todos os dias quando acordava pensava "o que eu devo fazer hoje?" quando deveria dizer "já sei o que quero fazer hoje!". É tão difícil saber o quanto me doei e como você me deixou cair. Era como se eu fosse uma pedra, e desabar foi como uma montanha que, por destino ou coincidência, estava próxima a um tornado. 
Os dias foram passando, eu fechava os olhos e tentava imaginar se você estava cuidando do pedaço que levou de mim quando bateu a porta e fez o trinco cair sobre os meus pés, e os meus olhos molharem o que estava ardendo por dentro e fora de mim. Pensei no que você fez com o que pertencia única e exclusivamente a você, se havia jogado fora e pegado outro pedaço, outro ser. Penso quem mais deixou alguém dolorido, quem já machucou a ponto de sentir em si mesmo que não deveria perfurar tanto assim. Acordada eu me sentia machucada e a sua voz desaparecia, adormecida ela ecoava. O mundo ainda não me contou que você se foi, eles querem que eu fique firme, mas eu permaneço sem resposta, sinto que você está morrendo dentro de mim. Queria tanto que você se sentasse aqui perto de mim, juro que estou onde sempre me encontrava, juro que não sou tão forte. Juro que quero ouvir você dizer que eu sou aquilo que você não aprendeu a controlar, que eu sou o ponto fraco no seu coração (que ninguém vê).

Porque quando nós nos deitamos por entre os lençóis eu sinto que todos esses anos cicatrizaram você dentro de mim, que o mundo pode acabar amanhã, e ainda assim, teremos um pouco um do outro. Quando você cair, também estarei desmoronando, quando você se levantar, estarei esperando, mas você sabe que eu preciso de mais um tempo, preciso me refazer, parte por parte.
Enquanto isso não acontece eu continuo sentada onde você costumava me encontrar, mas de uma forma diferente, meus olhos já não brilham quando pensam em você. O meu café está mais fraco porque eu prefiro assim, e com ou sem a sua companhia a minha felicidade não está onde você tocou e arrancou. Você nunca foi muito bom em advinhas. Com ou sem você continuarei a me sentir viva. Um pouco mais quando restar dentro de mim apenas cinzas de você (pois como eu disse, teremos, sempre, um pouco um do outro). Enquanto isso continuo a pensar qual foram as suas razões para ir, se eram tão boas assim, se elas realmente existiram ou se você simplesmente quis me ver sangrar por não te ter, todos os dias, tanto assim. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O prazer mora ao lado

Sou eu

Você é bom para si mesmo?